The Real Twin Peaks – Parte 4 – Twin Peaks Sign Spot (“A Curva”)
Twin Peaks Sign Spot é como é conhecida oficialmente “a curva”, tema da capa do filme piloto e do álbum da trilha sonora da série de David Lynch. “Sign Spot”, precisamente, é o local em que a placa fictícia foi instalada na época da gravação do piloto. A clássica cena em que o agente do FBI Dale Cooper chega à cidade conversando com Diane, seu gravador portátil, mostra seu carro sumindo curva adentro.
Poucas cenas são tão poderosas como essa e, conhecendo a região, posso dizer que o local é exato e perfeito. Poucos metros para frente ou para trás modificam bruscamente o cenário. Somente os olhos treinados de um gênio como David Lynch seriam capazes de detalhar com tanta exatidão um local escolhido como representativo de uma calma cidade do interior onde ninguém é inocente. O local possui um “Twin Peaks feeling” tão autêntico que o defino como o principal ponto turístico a ser visitado na região, logo depois do Salish Lodge (Great Northern Hotel) e Snoqualmie Falls. A busca pela “curva” não é assim tão fácil, mas achar o local da fotografia é mais difícil ainda. Porém, esse trabalho eu já tive e agora explico pela primeira vez todos os segredos de como localizar o ponto exato. Confira no vídeo:
Conforme prometido no vídeo, eu preparei um Google Maps do ponto, junto com outras atrações da região, algumas detalhadas nos posts anteriores da série e outros que ainda serão explicadas nas publicações futuras.
Visualizar The Real Twin Peaks by Borba em um mapa maior
A caminho da curva
O Sign Spot fica a pouco mais de 5 minutos de carro do Salish Lodge. Se você assistiu ao vídeo, sabe que o trajeto é igualmente maravilhoso. Um exemplo de cenário pode ser visto nesta imagem, que mostra o Mount Si ao fundo. Na verdade, não existem picos duplos e o nome Twin Peaks é puramente fictício. Porém, um rápido olhar sob este ângulo revela a presença de dois cumes que levaram David Lynch a se inspirar para o nome da série:
A Reinig Road, ou melhor, SE Reinig Rd, como é realmente indicada nos mapas, é relativamente curta e com poucas curvas. Como pode ser visto na foto anterior, a visão do Mount Si é realmente deslumbrante, sendo este o caminho percorrido a partir do Salish em direção à curva. Do lado oposto, vindo de N, em sentido paralelo à montanha, é possível entrar na Reinig a partir desta placa:
E aqui estou eu, no ponto exato da fotografia da curva, brigando com o zoom e com o ângulo da máquina:
A verdadeira foto da curva
Alguns macetes podem ser utilizados para descobrir o local exato do Sign Spot. Tudo começa pela proporção de tamanho e alinhamento que o primeiro poste deve ter com relação ao cume direito do Mount Si, que seria a Blue Pine Mountain no mapa imaginário de David Lynch (o cume esquerdo seria a White Tail Mountain). Em seguida, o alinhamento deve ser feito com relação à árvore que fica à direita da câmera, pois os galhos são exatamente os mesmos de 25 anos atrás! Confira o resultado final:
Foto original do filme
Foto tirada em abril/2014, primavera, pela manhã
Foto tirada em abril/2014, primavera, à tarde (em ângulo um pouco mais aberto)
Foto tirada em novembro/2008, outono, em torno do meio-dia
Macete para identificar a curva: atenção aos 3 postes
Se você acompanhou o post até agora, já deve ter percebido pelo menos alguns aspectos. Em primeiro lugar, as fotos atuais são ainda mais lindas que o cenário da época. Porém, vamos levar em consideração que uma câmera fotográfica amadora e até mesmo um celular da geração atual possuem maior resolução do que muitas câmeras profissionais de 25 anos atrás.
Uma segunda constatação, esta surpreendente, é perceber como pouco mudou nessa cena. Uma das árvores não está mais ali, mas de resto tudo se mantém conservado, o asfalto era de boa qualidade na época e continua excelente nas duas visitas que fiz à região (e estamos falando de uma estrada regional).
Infelizmente, segundo os fãs ardorosos da série (nos quais, pelos requisitos nerds, eu “ainda” não me encaixo), o mesmo não se pode dizer de outras locações que já sofreram intensa urbanização, pelo bem ou pelo mal do progresso.
A cena do Agent Cooper
Fotografar a curva já não era suficiente no meu espírito de fã de Twin Peaks. Tendo repetido a mesma experiência realizada em 2008, eu ainda não estava satisfeito e resolvi dar um passo a mais na homenagem à série. Tive a ideia, no último momento da sessão de fotos da tarde, de tentar reproduzir a famosa cena em que o agente Dale Cooper chegava à cidade.
Detalhe: eu não tinha comigo o vídeo da cena…
Mesmo assim, puxando a memória, já que estava de corpo e alma mergulhado na atmosfera “Peaker”, peguei o Lincoln ATS que eu havia alugado e fiz várias passagens pela curva, retornando e conferindo a filmagem a cada manobra para perceber se, conforme a minha memória, a velocidade do carro e o “Peaks mood” estariam autênticos.
O resultado final, após uma série de testes, foi esse (repare no áudio do carro se aproximando):
Eu havia ficado muito satisfeito com o resultado até então. Porém, eu ainda tinha uma dúvida que permaneceu comigo durante toda a viagem, e que somente fui pesquisar a resposta ao retornar ao Brasil: será que eu havia “aproximado” da cena original ou havia errado por uma larga escala?
Chegando de viagem, uma das primeiras coisas que eu fiz foi comparar a cena original à minha gravação – lembre-se, realizada “de memória”. Seja você o juiz do resultado (recomendo também assistir diretamente no YouTube com a tela ampliada):
Curiosidade: logo nas primeiras “tomadas” eu percebi que, para fazer essa cena, não era possível manter uma velocidade fixa. Conforme o carro entra na curva, as distâncias ficam maiores, pois, ilusão de ótica à parte, essa não é uma curva fechada. O macete que utilizei para tornar a cena mais interessante foi acelerar progressivamente rumo ao fim da cena – e deu certo!
O verdadeiro motivo da foto da curva
Apesar de tudo isso, o verdadeiro motivo da viagem ainda não estaria concretizado. Uma das principais razões que me levaram a retornar à região de Snoqualmie tem origem em um arrependimento da minha viagem de 2008 – eu não havia tirado uma foto correndo na “curva do Twin Peaks” (veja o que o trauma faz na vida de uma pessoa). Como praticante assíduo de corrida, meu desejo era ter uma foto com qualidade suficiente para fazer um poster, que retratasse uma corrida na curva, com uniforme Magic Run e tudo o mais.
Não por isso, em 2014, após dezenas de fotos burst, eis que…
Além de tirar essas fotos maravilhosas em dezenas de megapixels, eu também realizei um treino de corrida na região, logo após a sessão matinal de fotografias – treinar nessa região arborizada e montanhosa é verdadeiramente um luxo em termos de qualidade de vida. Certamente, uma motivação para deixar a preguiça de lado:
Fotos
Até o meu próximo post, que será sobre a ponte de Ronette, confira mais fotos desse icônico cenário através do meu Flickr:
- Abril/2014: galeria atual do Twin Peaks Sign Spot, com fotos tiradas durante a manhã e à tarde – http://bor.ba/TP04
- Novembro/2008: o álbum anterior mostra, além da curva, outros cenários que explicarei nos próximos posts – caso você não deseje estragar a surpresa, recomendo que não clique – http://bor.ba/TP200804
Pingback: The Real Twin Peaks - Post Final | Antonio Borba
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Caro Antonio, que viagem maravilhosa fizestes!
Montaste um roteiro perfeito! Senão vejamos: uma viagem romântica para o casal, esporte, documentação para fãs, além da experiência de vivenciar uma região que não é lugar comum para nós… Isso sim é viagem! Abração!
Caro Stefano, muito obrigado! Fico contente pelo seu reconhecimento, uma vez que, justamente, considero o local tão maravilhoso e inexplorado por nós brasileiros, que achei interessante justamente compartilhar a experiência. Entender o motivo da tal foto que pipocou no meu Face há algum tempo 🙂 abraços!