Super Breakout e A Dinastia dos Pongs

Em 1971, o primeiro video arcade fabricado, Computer Space, iniciava uma indústria que iria revolucionar o entretenimento ao redor do mundo. Ele foi criado por Nolan Bushnell e Ted Dabney através de uma empresa chamada Syzygy, que viria a se transformar em nada menos do que a Atari.

Após esse feito de engenharia, a dupla fundou a Atari em 1972 e encomendou ao cientista da computação Allan Alcorn a criação de um jogo surpreendente, que veio a se chamar Pong. Este, sim, o primeiro videogame a atingir sucesso comercial no mundo. Ele teve 8.000 gabinetes fabricados e, hoje, é um dos arcades mais desejados em qualquer coleção, porém geralmente é visto somente em museus.

Apesar do enorme sucesso comercial, o Pong era destinado a dois jogadores. Na época, ainda não havia capacidade para programar um computador para atuar como adversário em uma partida de videogame. O jogo foi sucedido por várias adaptações oficiais nos arcades, incluindo os raríssimos Pong Doubles, Superpong e Quadrapong, alguns destinados a até 4 jogadores, sem falar dos inúmeros clones de Pong dos demais fabricantes.

Porém, no cenário doméstico, o sucesso foi ainda maior. A Sears, uma gigante de departamentos na época, chegou a vender mais de 150.000 unidades de sua versão doméstica do Home Pong sob a marca Tele-Games, que era fabricada pela Atari. Somada à própria versão doméstica da marca Atari, além dos diversos clones, as vendas equivaleriam a centenas de milhares de unidades.

One-Player Game: O Desafio

A próxima etapa da indústria era desenvolver um game plenamente desafiador para ser jogado individualmente, sem depender de outras pessoas para o papel de oponentes. Enquanto a capacidade tecnológica não era suficiente para simular inteligência em um computador, o segredo estava em encontrar soluções criativas para criar desafios a partir do estilo de jogo.

E assim surgiu Breakout, em 1976. Partindo do conceito fundamental do Pong, e inspirado pelo jogo Clean Sweep, da Ramtek, o game consistia em rebater a bola com uma raquete. A inovação foi uma parede com fileiras de tijolos que poderiam ser quebrados. A ideia, simples e revolucionária, resultou em um enorme sucesso comercial não somente nos Estados Unidos, mas também no Japão, o que levou à produção de cerca de 11.000 gabinetes na América e 15.000 no mundo. Sua versão doméstica para o Atari 2600 vendeu mais de 1,5 milhão de cartuchos.

Breakout foi desenvolvido por nada menos que Steve Wozniak, que viria a ser o cofundador da Apple com Steve Jobs. Na época, a Atari ainda não usava o microprocessador em suas placas-mãe, o que acarretava um aumento exagerado da utilização de circuitos lógicos conhecidos como TTL. Isso levou a uma das histórias mais conhecidas da indústria dos videogames. 

Jobs, na ocasião, participou da criação de Breakout em conjunto com Bushnell e Steve Bristow, todos motivados a interromper o sucesso dos clones de Pong que estavam “roubando” o mercado da Atari. Steve Wozniak, ou “Woz”, entrou no projeto, ainda como empregado da Hewlett-Packard, na condição de pessoa mais especializada em circuitos lógicos. Jobs o encarregou de reduzir ao máximo o número de circuitos da placa-mãe para economizar em custos de produção.

Em menos de uma semana, trabalhando à noite como freelancer, Woz entregou a placa final de Breakout com 42 chips e recebeu US$ 350 pelo feito, o que, segundo Jobs, seria metade do bônus de US$ 700. Ocorre que o verdadeiro bônus oferecido por Bushnell era de US$ 5.000, o que viria a ser descoberto por Wozniak muito tempo depois, contribuindo para um previsto desgaste na relação entre ele e Jobs.

Super Breakout: A Evolução da Lógica de Software

Com o aumento de complexidade na lógica dos jogos eletrônicos, era natural que a capacidade de utilização de chips TTL chegasse a um limite, uma vez que, em grande quantidade, representavam um custo considerável de produção e uma maior probabilidade de falhas de componentes.

A solução viria através da adoção do microprocessador nas placas lógicas. E, assim, a Atari evoluiu mais uma vez no seu conceito de sucessão do Pong através do Super Breakout, cuja placa-mãe era um feito tecnológico que transferiu a lógica de programação do hardware para o software. Porém, ainda assim, o jogo não possuía muitas diferenças em relação ao Breakout, apenas inaugurando algumas variações mais sofisticadas de gameplay, como “Cavity”, “Doubles” e “Progressive”.

Super Breakout não foi um sucesso comercial. O ano era 1978 e o que o jogo oferecia era “too little, too late”. O conceito já era conhecido, o que levou a não mais do que 5.000 gabinetes produzidos, evidenciando o desgaste da fórmula que já tinha 6 anos de vida. Logo em seguida, viriam os super hits Space Invaders e Asteroids, representando uma mudança significativa no estilo dos jogos e novos gêneros.

A Atari ainda evoluiria mais uma vez o conceito “Ball and Paddle” com Warlords, que pode ser visto aqui no meu blog. Uma espécie de mistura entre Quadrapong e Breakout, Warlords foi um sucesso comercial em 1980, alcançando cerca de 25.000 gabinetes produzidos (dos quais somente 5.000 eram da versão Cocktail). Foi também o primeiro dos sucessores de Pong da Atari a utilizar um monitor colorido. Até então, as cores eram simuladas através do uso de overlays.

O sucessor final deste tipo de jogo foi o conhecido Arkanoid, fabricado pela Taito em 1986 com inúmeras sofisticações que a melhor capacidade de hardware da época já permitia.

Conclusão: apesar do relativamente baixo sucesso de Super Breakout, esse arcade possui enorme significância histórica – além de ter sido o primeiro sucessor de Pong a utilizar o microprocessador, é o melhor jogo single-player do gênero e, simplesmente, não foi lançado mais cedo porque necessitava da evolução do hardware para alcançar esse nível de jogabilidade.

Este post é parte de uma série.

O próximo post é o 01 – Um Achado e o Início de uma Amizade.

Conheça o passo a passo da restauração do Arcade Super Breakout da Atari, através do índice dos capítulos.