Star Trek em um Gabinete de Asteroids?

Muitas vezes, ao escrever estes artigos técnicos para o meu blog, eu não posso deixar de perceber como o arcade Asteroids é citado em tantas postagens. Chego a refletir se é algo relacionado à minha experiência com o game, porém, ao que parece, esse superclássico realmente exerce influência em uma série de jogos de arcade, por diferentes motivos.

A história deste gabinete de Star Trek se confunde com a do Asteroids porque se trata de um kit oficial de conversão da Sega, ou seja, é o hardware Star Trek instalado em um gabinete de Asteroids, fornecido em um kit customizado pelo próprio fabricante:

Antes de tratarmos deste kit, é importante entender como o Star Trek foi originalmente concebido.

Star Trek e Variações de Gabinete

A Sega foi pioneira ao lançar em 1981 o primeiro arcade vetorial colorido, o Space Fury. Este jogo foi o primeiro a rodar em uma plataforma inteiramente nova chamada G80, que consistia em um versátil sistema capaz de rodar diversos jogos considerados avançados para a época. Os jogos criados para essa plataforma no formato vetorial colorido são:

• Space Fury (1981)
• Eliminator (1981)
• Battle Star (nunca lançado, estava planejado para 1982)
• Star Trek: Strategic Operations Simulador (1982)
• Tac/Scan (1982)
• Zektor (1982)

O Star Trek foi concebido em duas versões, sendo a mais comum no clássico gabinete Upright, muito bonito, com um tom de marrom que remete ao dourado:

Entretanto, ele também foi feito em uma versão completamente única no estilo cockpit, chamada de Star Trek Captain’s Chair, claramente baseada na cadeira da ponte de comando do filme original Star Trek: The Motion Picture.

Neste gabinete único e muito valorizado entre os colecionadores, o desafio consiste em jogar com os controles distribuídos em ambos os braços da poltrona do capitão, ficando o knob/spinner do lado esquerdo, e os botões, do lado direito:

Meu primeiro contato com esse gabinete foi na visita que fiz ao Flynn’s Retrocade, na cidade de Roy, em Utah – cujo nome é baseado no filme Tron –, em setembro de 2023:

Os games do Flynn’s são mantidos em funcionamento por Johnny Gallegos e Jerry Madsen, que possuem uma gigantesca coleção com 800 arcades, a qual tive a oportunidade de visitar na região. No vídeo abaixo, é possível ver meu amigo Chris Miller, um entusiasta e colecionador de arcades de Farmington, Utah, jogando – muito bem, por sinal! – neste gabinete:

O Kit de Conversão que é um Novo Arcade

A Sega lançou oficialmente 4 kits de conversão para instalar o Star Trek em outros gabinetes de arcade. Um deles era para o próprio Space Fury, que, por já utilizar o sistema G80 com monitor vetorial colorido G08, naturalmente representava uma conversão bastante simples de ser feita.

Entretanto, os demais kits exigiam descartar todos os componentes originais e instalar o hardware inteiro da Sega, pois eram para máquinas como Scramble, Tempest e, a maior base instalada no mercado com dezenas de milhares de gabinetes fabricados, o Asteroids:

Apesar de serem arcades vetoriais, tanto o Asteroids como o Tempest utilizavam outra tecnologia de monitores, e o sistema G80 da Sega operava a partir do monitor G08, exigindo, portanto, a substituição completa do chassis com monitor e tubo. Isso para não falar da troca da placa-mãe pelo boardset (cage com diversas placas) da Sega, do novo chicote, do painel de controle, do marquee e dos adesivos, entre outros. 

São tantas as mudanças que fica difícil entender os motivos para a existência de um kit de conversão como este, senão os aspectos mercadológico e de marketing por trás da escolha.

De todos os kits de conversão, o Asteroids é considerado por muitos como o melhor deles, especialmente por ter o maior painel de controle entre os gabinetes disponíveis para essa transformação, sendo o único em que o planeta da ilustração do jogo cabe inteiro, sem cortes ou dobras (basta comparar a foto abaixo com a galeria de kits logo acima):

Isto posto, este é o modelo de gabinete que eu consegui adquirir para a minha coleção, uma conversão oficial da Sega, e, como fã de Asteroids, achei bastante interessante a proposta, sem contar que paguei cerca de 40% do valor que custaria um Star Trek no gabinete original Upright.

Além disso, meus planos iriam além de simplesmente ter um vetorial Sega em minha coleção. Como será possível ver nos próximos capítulos, eu pensava em expandir a capacidade dessa máquina para um vector multigame.

Este post é parte de uma série.

O próximo post é o 01 – Chegada: Um Bicho Completamente Novo.

Conheça o passo a passo da restauração do Star Trek, arcade vetorial colorido da Sega, através do índice dos capítulos.