Black Widow #4: Monitor Extraviado e a Dificuldade de Conseguir Outro
Após tentar, sem sucesso, reparar o monitor do meu arcade Black Widow, eu cheguei à conclusão de que seria melhor enviá-lo para um especialista nos Estados Unidos. Neste momento, comecei a procurar opções e percebi que o reparo de color vectors não é muito comum – muitas pessoas não o fazem devido à dificuldade técnica, porém, existem especialistas neste tipo de conserto.
Inicialmente, localizei uma oficina genérica, que consertava todos os tipos de monitores, mas que tinha conhecimento suficiente para reparar o WG6100. Dessa forma, enviei a esta empresa o conjunto deflection board + HV cage:
Em cerca de 3 semanas, recebi o feedback de que o monitor estava consertado e estava sendo enviado de volta ao Brasil. Porém, transcorridos alguns meses, eu ainda não o tinha recebido. Iniciei uma longa sequência de conversas com o fornecedor, e não conseguimos localizar o pacote, de modo que concluímos que ele foi extraviado. O que se seguiu foi mais uma longa troca de e-mails, através dos quais consegui convencê-lo a entrar com uma queixa formal nos correios americanos, o USPS.
Após aberta a reclamação – primeiro fisicamente na agência, depois online – e transcorrido mais algum tempo, meu contato recebeu a informação de que o monitor havia sido enviado, erroneamente, para a Coreia do Sul. A sequência do rastreio, com dezenas de ocorrências, era tão surreal que ficou difícil entender o que houve. Aparentemente, o pacote seguiu para o Brasil, foi devolvido aos Estados Unidos e então seguiu para a Coreia, sem maiores explicações do motivo, pois o meu endereço estava preenchido corretamente.
A Escassez de Monitores no Mercado
Durante o processo de extravio do pacote e as diversas semanas transcorridas até a localização do monitor, eu comecei a pesquisar a disponibilidade de monitores à venda no mercado. Isso me ajudou a entender melhor a realidade de uma tecnologia antiga em alta demanda pelos colecionadores e com muitas dificuldades de manutenção e substituição. Apesar de eu ter visto muitos monitores para vender em grupos especializados, eram todos rasters equivalentes aos modernos e, de fato, nenhum vector disponível.
Simplesmente não havia um WG6100 à venda, e não foi difícil entender o motivo: com o passar dos anos, os gabinetes antigos vão deteriorando e os colecionadores começam a restaurar os arcades. Algumas vezes, fabricam novos gabinetes e buscam conjuntos originais de placas-mãe e monitores para reconstruí-los com componentes eletrônicos originais. Outras vezes, conjuntos muito antigos, enferrujados e danificados, simplesmente precisam ser substituídos. É nestas horas que ocorre a falta de componentes suficientes para atender ao mercado.
Em conversa com diversos especialistas, eu pude compreender que, no caso de color vectors, o preço de um arcade é formado, aparentemente, da seguinte forma:
- 40% por uma placa-mãe em perfeito estado de funcionamento
- 40% por um monitor vetorial em perfeito estado de funcionamento
- 20% por todo o resto, incluindo gabinete, conjunto de força, arte-final, marquee, etc.
Ou seja, o monitor ou a placa-mãe, isoladamente, representam quase metade do preço de venda de um arcade.
Após muita busca nos grupos técnicos, me deparei com o projeto de um entusiasta chamado Barry Shilmover, que estava iniciando a fabricação de um lote de gaiolas de alta voltagem (HV cages) especialmente para o WG6100. Imediatamente entrei na lista de espera e fiquei aguardando a produção.
Mesmo assim, eu ainda precisaria de uma placa defletora. Após novas buscas e conversas, conheci o projeto Allan-1, que oferece uma placa nova por US$ 200:
Ainda assim, o Allan-1 necessita ser combinado com seu conjunto de transistores externos, mencionado no meu artigo inicial, a respeito dos vetores coloridos, que custa mais US$ 200:
Antes de decidir pelo upgrade, eu continuei a pesquisa diretamente com alguns vendedores mais ativos nos grupos de colecionadores, buscando descobrir se algum deles teria um monitor extra à venda, que poderia não estar anunciado. Afinal, é muito comum que restauradores e colecionadores tenham um amplo estoque de peças, muitas necessitando de reparo. Levei algumas semanas conversando com diversas pessoas até que localizei, por coincidência, dois colecionadores que tinham conjuntos extras de WG6100 jogados em pilhas de peças, fora do estado de funcionamento (ou seja, necessitando de revisão e reparo).
Foi neste momento que comecei a pesquisar outras alternativas para o reparo de monitores vetoriais. Após ampla pesquisa, eu descobri dois profissionais bastante recomendados em fóruns especializados, ambos de nome Andrew. Qual é a chance de os dois melhores profissionais em reparos de color vectors se chamarem Andrew? Bem, aqui estavam eles, com nomes de usuário Andrewb e Slackmoe.
Minha decisão foi tentar a sorte com os dois conjuntos usados, pois, até então, eu não sabia se seria possível repará-los. Enviei um deles para o Andrewb, outro para o Slackmoe, diretamente dos Estados Unidos, sem passar pelo Brasil. Andrewb me avisou que seu prazo de entrega era cerca de 3 meses, tamanha a demanda, enquanto Slackmoe poderia reparar o conjunto em poucas semanas.
Esta é outra realidade impressionante do desconhecido mundo dos restauradores de arcades. Um profissional pode se dedicar a consertar somente um determinado tipo de equipamento e mesmo assim ter uma demanda tão grande que o prazo de entrega é de meses de espera. A demanda é contínua e tende somente a aumentar com o tempo.
O status da minha situação em relação ao WG6100, portanto, era:
- O monitor original extraviado (deflection + cage)
- Um monitor (deflection + cage) comprado e enviado a Slackmoe para reparos
- Um monitor (deflection + cage + neck) comprado e enviado a Andrewb para reparos
- Uma HV cage em lista de espera para fabricação com Barry
- Uma neck board e uma máquina desligada e sem monitor no Brasil
De 0 a 3 Monitores
Enquanto os dois especialistas estavam com a tarefa de consertar meus monitores, eis que, em uma agradável surpresa, os correios americanos comunicaram ao antigo fornecedor que o pacote localizado na Coreia do Sul estava em rota de devolução aos Estados Unidos.
Cerca de 2 semanas depois, o monitor foi recebido e inspecionado. A informação que obtive foi de que ele possuía danos ocasionados pela longa rota dos correios e precisaria novamente de reparos. Porém, pouco tempo depois, meu monitor original estava reparado e a caminho do Brasil. E, desta vez, foi recebido com sucesso.
Em seguida, Slackmoe terminou o reparo do boardset do segundo conjunto e enviou para mim. Várias semanas depois, Andrewb finalizou o processo no terceiro conjunto. E, diversos meses depois de entrar na fila de espera, Barry finalmente terminou a fabricação das gaiolas e enviou a minha para o Brasil.
De todas as conversas e aprendizados que esse processo me proporcionou, para mim o mais impressionante foi o conhecimento e a altíssima capacidade técnica de Andrewb. O seu procedimento de reparo envolve a retirada de todos os componentes das placas a serem reparadas, a lavagem da placa (isso mesmo) e a remontagem cuidadosa, com a substituição e/ou o upgrade preventivo de todos os componentes que possam vir a apresentar defeitos no futuro, o que é chamado de bulletproofing. Este processo tem como objetivo garantir a sobrevida por um longo tempo, diminuindo drasticamente a chance de surgirem defeitos que possam ocorrer quando são substituídos somente os componentes desgastados.
Neste momento, meu status passou de “0 monitores e uma máquina que havia virado enfeite de sala” para o surpreendente status “3 conjuntos de monitores WG6100 em condições de funcionamento, além de uma gaiola de alta voltagem nova, na reserva”. Contudo, o tubo CRT permanecia sendo apenas um, ou seja, seria necessário ter sempre o máximo cuidado para manipular o conjunto, pois qualquer dano ao tubo poderia ocasionar outra dolorosa jornada de aquisição e substituição, tarefa que se torna cada vez mais difícil.
Este post é parte de uma série. Os capítulos anteriores são: Post Introdutório: Arcades Vetoriais Coloridos, 01 – Uma Conversão a Partir do Gravitar, 02 – Tentativa de Reviver os Vetores Coloridos e 03 – WG6100 Monitor Rebuild: Um Desafio Gigante.
O próximo post é o 05 – AVG Chip: O Componente que Vai Falhar.
Pingback: Joust Cocktail #4: Rebuild da Placa de Som - AntonioBorba.com - AntonioBorba.com
Pingback: Black Widow #6: WG6100 – O Desafio de Montar um Novo Monitor - AntonioBorba.com - AntonioBorba.com