Black Widow #11: O Verdadeiro Desafio de Fazer Funcionar um Color Vector – Parte 3
Este post é continuação do anterior, em que consegui localizar o defeito no chicote do meu arcade Black Widow e retomei o processo de montagem do monitor color vector WG6100 a partir da etapa 5 do guia criado pelo especialista Andrewb.
Com a etapa 5 plenamente concluída com sucesso e o lindo som de deflexão vívido na memória, partimos para a tarefa seguinte. Porém, antes, cabe uma explicação sobre a alta tensão destes monitores.
Como Lidar com a Alta Tensão de um Monitor Vetorial
Os antigos tubos CRT trabalham a partir de uma corrente contínua de alta tensão, como é definida qualquer medida acima de 1.500V. E, entre os diversos monitores, os color vectors trabalham com uma tensão nominal de 19.500V, o suficiente para matar uma pessoa.
Por este motivo, muitos técnicos preferem não trabalhar diretamente com monitores e tubos. No mundo do colecionismo, existem especialistas em diferentes partes da máquina – aqueles que trabalham com restauração estética, outros que mexem somente com placas-mãe e outros que preferem trabalhar apenas com monitores. Raramente uma pessoa se especializa em mais de uma vertente.
Por falta de mão de obra especializada no Brasil, eu tive que adquirir um pouco de conhecimento em cada etapa, e uma das primeiras coisas sobre as quais procurei me informar foi a forma correta de descarregar um monitor vetorial.
Há muitos vídeos na internet que mostram pessoas descarregando tubos CRT através de uma chave de fenda conectada a um cabo elétrico plugado a uma conexão terra. Este método funciona, mas não é recomendável para monitores vetoriais.
A forma correta é utilizando uma sonda de alta tensão, conhecida como HV Probe (High Voltage Probe). Este dispositivo tem como objetivo reduzir a corrente em 1.000x, para finalidade de medição. Tipicamente, liga-se a sonda a um voltímetro, e uma corrente de 10.000V, por exemplo, vai marcar apenas 10V com a redução proporcionada (do contrário, o equipamento estragaria com a alta tensão).
A sonda é inserida diretamente no anodo do flyback que fica no tubo:
Enquanto muitas pessoas são extremamente cuidadosas em nunca mexer em um monitor sem antes descarregá-lo, alguns especialistas afirmam que monitores vetoriais coloridos não necessitam do procedimento de descarga porque são autodescarregáveis. Porém, estes especialistas não arriscam mexer diretamente no anodo, e quando mexem é sempre através da proteção de silicone.
Eu adoto o procedimento de descarga com a sonda sempre que vou mexer nos componentes do monitor. Porém, para realizar os testes finais de funcionamento do WG6100, é preciso mexer em diversos componentes com o monitor ligado e a corrente de alta tensão presente.
Os procedimentos podem parecer arriscados, desta forma, o cuidado é necessário para não encostar no anodo do flyback e também para verificar, antes de ligar o monitor, se o flyback não apresenta nenhum dano no isolamento. Ao ligar o monitor e perceber qualquer sinal de vazamento de arco de alta voltagem, ruído de estática ou cheiro, deve-se evitar mexer nele.
Etapa 6 – Setup da HV Cage e Sonda de Alta Tensão
A preparação para a etapa 6 consiste em conectar na HV cage o cabo vermelho e branco que vai até a neck board – com cuidado para não quebrar o suporte –, além de conectar o pino P500 de 8 vias.
Antes disso, na montagem, é importante certificar-se de que o cabo de aterramento BLK está conectado dentro da gaiola e que o anodo do flyback está conectado ao tubo. É possível também conectar o anodo neste momento, porém o melhor mesmo é deixá-lo conectado previamente, para fazer com o devido cuidado.
Obs.: uma recomendação que não é mencionada no guia de Andrewb é instalar a gaiola aberta. Esta é uma prática possível de ser feita, que facilita a regulagem da alta tensão e permite que os componentes trabalhem com melhor refrigeração. Quando o monitor é montado com a gaiola fechada, torna-se muito difícil, senão impossível, fazer a regulagem da alta tensão, exigindo que a operação seja realizada fora do gabinete.
Após conectar os cabos, é necessário ligar a sonda de alta tensão ao anodo, conectar o fio terra ao chassis do monitor e, se a sonda for do modelo de medição externa, conectar os cabos de prova ao multímetro. IMPORTANTE: isto deve ser feito com o monitor desligado, por medida de segurança.
É difícil achar um local adequado para ligar a sonda, de forma que não seja necessário ficar segurando-a. Mas é preciso encontrar um jeito, para ter as mãos livres. No meu caso, consegui acomodá-la no topo da gaiola de forma bastante satisfatória.
Em seguida, deve-se localizar o trimpot (potenciômetro) de alta tensão, que é necessário para realizar a regulagem. O ideal é ter uma chave de fenda não metálica para este processo e deixar o potenciômetro pré-ajustado na posição de 2 horas, ou seja, levemente à direita. Na ausência da chave não metálica, uma pequena ferramenta com corpo plástico é sempre mais segura. O objetivo é evitar que partes metálicas toquem em outros componentes.
Não esqueça de verificar previamente a posição do trimpot, pois, em regulagens extremas (próximas do máximo), a tensão da corrente pode ultrapassar 20.000V, emitir raios X e causar interferências eletromagnéticas, algo que não queremos dentro de nossas casas, não é mesmo? (rs)
Por fim, é importante deixar as regulagens de foco e screen do flyback em posições neutras, para evitar descarregar um brilho excessivo no tubo.
Obs.: algumas pessoas, não possuindo uma sonda, preferem fazer a regulagem através do ponto B+ na neck board, que deve marcar ao redor de 183V. Segundo Andrewb, esta medição deve ser feita somente como dupla checagem, e não como regulagem principal, devido à falta de precisão.
Etapa 7 – Teste de Alta Tensão
Com o setup anterior previamente organizado e todos os cabos e conectores plugados, nesta etapa é importante desligar a placa-mãe do game (PCB). O teste será feito sem o desenho de vetores, somente ajustando a tensão elétrica.
Ao ligar o arcade para esse teste, deve-se ficar atento a qualquer sinal de anomalia, com as mãos no switch do gabinete para desligá-lo diante de qualquer imprevisto. Lembre-se de que não deve haver barulho de deflexão (chatter), pois a PCB está desligada, portanto a luz de spot killer voltará a acender como forma de proteger o tubo. Sem o spot killer, os vetores ficariam acesos no centro do tubo por um tempo prolongado, queimando todo o fósforo central.
Se tudo estiver ok, é hora de ajustar a alta tensão através do trimpot, sempre observando o voltímetro. Enquanto o monitor permanecer ligado por um curto período de tempo, a regulagem pode ser mantida logo abaixo de 19.500V, pois, ao esquentar, tende a subir um pouco. Neste vídeo, é possível verificar o procedimento completo, embora eu não tenha conseguido filmar o processo de ajuste do trimpot. A voltagem inicia ao redor de 16.000 e vai subindo, conforme eu giro a chave de fenda.
Na sequência, eu consegui alcançar o ajuste perfeito, porém retrocedi um pouco por segurança até poder testar por mais tempo:
Em seguida, somente por segurança, é feito o double check no ponto B+ da neck board. Para ter o acesso, é ideal afastar o protetor da placa, caso haja. Esta regulagem deve estar entre 180V e 185V:
Tudo ok, vamos à etapa final!
Etapa 8: Unleash the Vectors!
Parece que chegamos lá! Após quase 2 anos, em uma jornada imensa de estudo, aprendizado e muita frustração, estamos quase… é chegado, portanto, o momento:
Como diz Andrew, se você chegou a esta etapa, é porque merece! Portanto, conecte a placa-mãe e ligue o arcade novamente!
Eis o vídeo da verdade:
Este post é parte de uma série. Os capítulos anteriores são: Post Introdutório: Arcades Vetoriais Coloridos, 01 – Uma Conversão a Partir do Gravitar, 02 – Tentativa de Reviver os Vetores Coloridos, 03 – WG6100 Monitor Rebuild: Um Desafio Gigante, 04 – Monitor Extraviado e a Dificuldade de Conseguir Outro, 05 – AVG Chip: O Componente que Vai Falhar, 06 – WG6100: O Desafio de Montar um Novo Monitor, 07 – Testando um Arcade Vetorial com Osciloscópio, 08 – A Substituição dos Transistores de Chassis do WG6100, 09 – O Verdadeiro Desafio de Fazer Funcionar um Color Vector – Parte 1 e 10 – O Verdadeiro Desafio de Fazer Funcionar um Color Vector – Parte 2.
O próximo post é o 12 – Como Regular a Imagem de um Monitor Vetorial Colorido.
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