Black Widow #1: Uma Conversão a Partir do Gravitar
Em 1982, a Atari lançou o arcade vetorial colorido Gravitar. Na época, com um cenário de videogames em franca ebulição e a enorme competitividade entre as diversas produtoras de jogos, não existia muito o conceito de testar os produtos previamente ao seu lançamento. Os arcades seguiam para o mercado e a reação do público era medida em campo.
Gravitar foi o primeiro jogo concebido por Mike Hally (em parceria com o desenvolvedor Rich Adam), que seria responsável por criar mais de 20 games para a Atari, incluindo, em 1983, Star Wars. Ocorre que Gravitar nunca alcançou o sucesso comercial, porque era simplesmente muito difícil.
Para se ter uma ideia do nível de dificuldade do jogo, o objetivo é percorrer 11 a 12 planetas por fase, em uma mistura de Asteroids e Lunar Lander, mas sua nave é ora puxada para baixo, em direção ao planeta, ora ao contrário, para fora. Para vencer o jogo, é preciso destruir os planetas 4 vezes, em universos diferentes, que alternam a direção da gravidade e a visibilidade do cenário. No último universo, o jogador se encontra em planetas com cenário invisível e gravidade invertida.
O jogo é tão difícil que nem mesmo os desenvolvedores principais conseguiram finalizá-lo!
Era de se esperar, diante disso, que o jogo fosse para poucos adoradores, pois a maioria das pessoas simplesmente não gostou da proposta. Até hoje, entre colecionadores, há poucos fãs do jogo em si, embora exista um enorme respeito pelo conceito e pela fantástica criação visual do gabinete de arcade.
Com pouco mais de 5.000 gabinetes fabricados, Gravitar está longe de ser um arcade comum, porém é considerado por muitos como o mais bonito entre todos os arcades de sua geração, principalmente por sua arte lateral:
A Conversão para Black Widow
Conversão era um conceito muito comum no mercado de arcades da década de 80. Em determinado momento, a indústria percebeu que poderia converter facilmente um jogo em outro da mesma geração, sem necessariamente ter que fabricar um novo gabinete. Isso era particularmente interessante quando as máquinas já haviam sido muito utilizadas e não rendiam mais fichas suficientes nos operadores.
Assim, os kits de conversão se tornaram comuns. Mais tarde, por exemplo, o próprio Star Wars receberia um kit para transformá-lo em The Empire Strikes Back, acompanhando a sequência da trilogia dos cinemas.
Tipicamente, os kits de conversão incluíam:
- Uma nova PCB (ou componentes adaptados para a placa-mãe original)
- Adesivos para a lateral da máquina, colados por cima da arte original
- Um novo marquee
- Um novo painel de controle, quando os comandos do jogo eram diferentes
Black Widow foi uma conversão lançada para o Gravitar, utilizando essencialmente a mesma geração de placa-mãe e o mesmo monitor, com um conceito comercial muito mais atrativo e com clara inspiração no clássico Robotron: 2084, da Williams. Black Widow utiliza o mesmo sistema de dual sticks que seria amplamente adotado na indústria, em que o joystick esquerdo é utilizado para mover o personagem principal e o joystick direito para direcionar o tiro, permitindo assim se movimentar em uma direção e atirar em outra. O jogo é entendido por muitos como um cross entre Robotron e Centipede.
A diferença é que Black Widow foi uma conversão lançada rapidamente e com gabinetes convertidos diretamente na fábrica. Com o insucesso de Gravitar, a Atari paralisou a reprodução do game e instalou kits em gabinetes já construídos para o jogo original. Dessa forma, muitos vieram com arte-final original do Gravitar sob o adesivo do Black Widow, colocado por cima. O painel precisava ser obrigatoriamente trocado para a colocação dos dual sticks. Já a PCB existe em duas versões: placas do Gravitar adaptadas para Black Widow e placas originais Black Widow.
Por sua vez, nas conversões realizadas pelos operadores de arcades, era bastante comum trocar o painel e o marquee, mas manter a lateral original. Na maioria das configurações de época, com gabinetes enfileirados um ao lado do outro, os jogadores sequer conseguiam ver a lateral.
O sucesso veio, e a conversão Black Widow, lançada em 1982, foi a mais comercializada nos arcades no ano seguinte, sendo uma grande sensação na época.
E assim chegamos ao meu arcade: pode ter sido uma conversão realizada em campo ou na fábrica, pois possui a lateral original do Gravitar preservada, porém com a PCB original Black Widow. Para efeitos comparativos, nesta galeria é possível observar o Gravitar Original, o Black Widow convertido e o meu Black Widow, com a lateral do Gravitar:
Os colecionadores, ao colocar as mãos em um gabinete como esse, geralmente pensariam em 4 opções:
- Converter o gabinete de volta ao jogo Gravitar, trocando painel, marquee e placa-mãe (algo relativamente fácil de ser feito)
- Colar o adesivo Black Widow na lateral e assim finalizar a conversão completa
- Montar um multivector com placas originais Gravitar e Black Widow, podendo jogar ambos os games. Esta opção é mais complexa, pois requer a construção de um painel multi
- Manter o Black Widow com a lateral do Gravitar
A opção que adotei foi a última, considerando o excelente estado da arte-final lateral do meu gabinete. Acredito que eu só prosseguiria com a conversão completa em Black Widow caso tivesse um segundo gabinete original Gravitar. Neste caso, faria sentido converter aquele com a arte em pior estado.
Este post é parte de uma série. O capítulo anterior é: Post Introdutório: Arcades Vetoriais Coloridos.
O próximo post é o 02 – Tentativa de Reviver os Vetores Coloridos.
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