Asteroids #2: Monitor Rebuild
Uma década se passou sem que meu Asteroids fosse consertado apropriadamente. O mau contato e a capacidade limitada de jogar persistiam. Até que, motivado pela história do post sobre os 15 arcades que eu escolheria para montar um game room, voltei a colecionar essas máquinas.
Durante o período que mencionei, desisti de encontrar alguém no Brasil que soubesse fazer a manutenção dos arcades americanos, especialmente com a tecnologia vetorial, completamente desconhecida até mesmo da maior parte dos técnicos remanescentes da época da Taito do Brasil.
Aos poucos, comecei a pesquisar, ler manuais técnicos e aprender os fundamentos principais. Junto com essa pesquisa, fui conhecendo os locais onde é possível comprar peças de eletrônica antiga e separar aquelas que são de boa ou má procedência.
Retirando o Chassis do Monitor do Asteroids
Antes de mais nada, para mexer em um tubo ou monitor, especialmente desconectando o componente de alta voltagem, é preciso fazer um processo de descarga que exige diversos cuidados.
Em monitores vetoriais, a descarga do tubo deve ser realizada com uma sonda de alta voltagem, para evitar danificar componentes do monitor, devido à alta carga elétrica (14.000 V no modelo monocromático e quase 20.000V no colorido). Falarei mais sobre isso no futuro.
Embora possa ser trivial para a maior parte dos restauradores, a sensação de retirar um chassis de monitor pela primeira vez de um arcade é brutal. O primeiro desafio é lidar com o medo de cometer algum erro estúpido, como bater o pescoço do tubo, o que inutilizaria permanentemente a máquina, já que comprar um tubo vetorial avulso é uma tarefa quase impossível.
O segundo desafio é evitar um equívoco literalmente fatal, como receber uma descarga de alta voltagem e morrer.
Monitor Rebuild
O primeiro passo, após a retirada do chassis, foi desmontar aos poucos os conjuntos de placas e limpar com um pincel a poeira acumulada de décadas.
Quando nos referimos ao monitor propriamente dito, geralmente não consideramos o tubo, mas sim o conjunto de placas associadas ao vídeo. O Asteroids era fabricado com três monitores vetoriais diferentes. A minha unidade veio com um Electrohome G05-801, que foi um dos primeiros. Este conjunto é formado por:
- Placa defletora (deflection board)
- Dissipador de calor da placa defletora (deflection heat sink)
- Placa reguladora (regulator board)
- Gaiola de alta voltagem (HV cage ou, no caso do Asteroids, conhecida como EHT board)
Logo após a limpeza, o próximo passo foi a desmontagem dos componentes.
O rebuild do monitor do Asteroids requer, basicamente, a substituição dos três capacitores da placa defletora. Pela foto, é possível perceber que dois deles já haviam sido substituídos, enquanto o outro era original. De qualquer forma, todos os capacitores possuem vida útil, com o tempo ressecam e precisam ser trocados.
O dissipador de calor da placa defletora é formado, além do dissipador em si, por quatro transistores de chassis, que foram substituídos, incluindo um novo insulador (peça plástica ou de silicone que fica entre o transistor e a chapa metálica) de melhor qualidade.
A seguir, foi feito o reparo na placa reguladora, que consiste, a princípio, em trocar dois pequenos capacitores radiais que ficam atrás dos capacitores centrais.
Por fim, no componente de alta voltagem, mais três capacitores foram substituídos.
Após todos os reparos, o chassis finalmente foi montado, com grande expectativa com relação ao funcionamento. Afinal, foi meu primeiro reparo de um monitor, e já comecei pelo vetorial. A torcida era por não ter cometido nenhum erro básico, como a inversão de polaridade de algum capacitor ou uma solda malfeita fechando curto com outro componente.
Testando o Monitor Vetorial
Com grande expectativa, eis que, após todo o reparo, o monitor do Asteroids voltou a funcionar em toda a sua glória:
Em seguida, o procedimento foi a regulagem do brilho do monitor. Conforme explicado no post sobre a tecnologia vetorial, o monitor XY traça linhas a partir do centro, como um raio laser, para formar as imagens. Ao aumentar o brilho, é possível perceber este funcionamento e o caminho seguido pelo raio:
Porém, esse recurso só pode ser utilizado por poucos segundos. É muito prejudicial manter o monitor nessas condições de intensidade, pois isso promove a queima do fósforo, que chamamos de “burn”. Todo tubo de arcade possui burn em menor ou maior grau, o objetivo dos colecionadores é postergar ao máximo esse desgaste natural. No vídeo acima, é possível perceber que o centro do tubo já apresenta um ponto central morto, em preto, onde o vetor não consegue traçar imagem. Isto ocorre quando um monitor defeituoso é ligado sem o devido cuidado e com o circuito de spot killer estragado. Este circuito foi construído justamente para evitar a queima do ponto central quando os vetores não estão se mexendo por qualquer motivo (exemplo, placa-mãe com defeito).
A regulagem correta de um monitor vetorial consiste em diminuir o brilho até o ponto em que você não enxerga mais as retrace lines. Idealmente, você também não deve enxergar o ponto central da tela aceso:
O ajuste de tamanho da imagem ainda não foi realizado nesta etapa, pois teríamos mais restaurações pela frente.
Após o reparo e os devidos ajustes, a imagem ficou impecável:
Este post é parte de uma série. Os capítulos anteriores são: Post Introdutório: O Poder dos Vetores e 01 – Modelo Upright com Defeitos Intermitentes.
O próximo post é o 03 – A/R-01 – Power Block Rebuild.
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